Ao som de Roupa Nova, ela pegava papel e caneta e começava a escrever. Procurou as palavras e as vestiu com todo o requinte que mereciam. Esticou o braço até o fim da mesa do computador, pegou um cigarro, levou até a boca, pegou o isqueiro.. logo lembrou-se que ele não gosta que ela fume. Devolveu o cigarro ao maço e voltou a olhar a tela.

Tinha escrito exatamente duas linhas: deletou as duas. Começou novamente com palavras rebuscadas, com parágrafos bem delineados…
– Droga! – resmungou, acendendo finalmente o cigarro, por impulso, sem perceber o que fazia – Isso não vai sair nunca! – olhava para a tela do computador, procurando as palavras certas que nunca pareciam certas realmente.

Uma semana havia se passado desde o encontro em que o beijo apaixonado precedeu o “Oi”. Parecia que já estavam juntos há anos, mas só havia se passado uma semana.. O coração acelerava sempre que pensava nele e pensava nele o tempo todo… Voava para o telefone todas as vezes que ele tocava e o sorriso era inevitável ao ouvir o “Oi, meu amor!” tão esperado às vezes pelo dia todo. E era para o telefone que ela olhava agora, como se os seus olhares fizessem o telefone tocar mais rápido.
Não tocou…

Levantou-se. Vestia a camisa do Flamengo. Desceu um pouco, foi até a rua. Voltou, colocou o fone de ouvido, começou a ouvir Roupa Nova. Escutou uma canção que dizia que “não faz mal não ser compositor. Se o amor valeu, eu empresto um verso meu pra você dizer”. Abriu finalmente um sorriso e escreveu apenas algumas palavras para si mesma:

“Ah, coração, se apronta pra recomeçar
Ah, coração, esquece esse medo de amar de novo.”

Cansou de esperar. Pegou o telefone e ligou para desejar um bom dia.