Mariana acordou mais um dia sem vontade de sair da cama. A televisão ainda não havia sido desligada: passava um seriado de humor estúpido e ela rapidamente começou a passear pelos canais: nada que prestasse. Ela teria um compromisso durante o dia, mas o telefone não tocava de jeito nenhum. Ela simplesmente desistiu de ficar ansiosa.

Levantou, deu uma volta pela casa. Fumou um cigarro, brincou com a cachorra. Sentou no computador, olhou alguns sites de relacionamento, mas não havia nada de interessante. O telefone continuava sem tocar. Pensou em ligar para alguém, mas não sentia vontade de falar.

Foi ler um pouco. Nada prendia sua atenção. Apenas suas memórias pulsavam, latejavam, gritavam dentro da sua mente. O dia anterior ainda estava vivo e ela simplesmente se recusava a sair daquela lembrança e voltar à realidade.

Era só um quarto de motel. Aliás, uma linda suíte de motel. Sauna seca, piscina, hidromassagem, televisão enorme… E a companhia… Ah! Era ele… Ele, só ele…

Estavam morando juntos há pouco mais de um ano. Era um relacionamento bom, tranquilo, seguro, estável. Não havia rompantes de sentimentos, aquela paixão desenfreada. Não, não era assim. Era como se o mundo fosse um mar em fúria, no meio de uma tempestade, e o relacionamento dos dois fosse um porto seguro no meio desse turbilhão mortal.

Era nisso que ela pensava naquela dia passado no motel. Claro que havia atração sexual: ela não sobreviveria por tanto tempo em um relacionamento sem sexo de qualidade. Mas era diferente de tudo o que Mariana conhecia: era algo sereno e calmo, que, por mais que houvesse excitação, por mais que houvesse um tesão dominante, não era apenas carne: era sentimento junto. O dia foi mais interessante por isso, por essas reflexões.

Ela percebia que ele era o seu refúgio, a sua paz. Ela percebia que era o refúgio dele, a paz dele. Eles se completavam, não por pele, mas por almas. Eram almas compatíveis, almas gêmeas.

Ele chegou do trabalho cedo. Trouxe pão com requeijão e refrigerante. Ela estava lendo uns textos no computador, ele iria jogar. Os dois se fizeram companhia, mesmo em silêncio. E ela ficou ali, olhando a televisão, convicta de que era o caminho certo e que, não importa o que houvesse, eles dois estariam bem. E isso bastava.